Bolsonaro cria novo modelo de enriquecimento: ‘Pixcaretagem’
30 jul 2023Estufando o peito como uma segunda barriga, Bolsonaro agradeceu neste sábado os depósitos de R$ 17,2 milhões que recebeu dos seus devotos. “Muito obrigado a todos aqueles que colaboraram comigo no Pix há poucas semanas”, disse ele, realçando que “quase um milhão de pessoas colaboraram”.
O capitão apareceu de surpresa num encontro de mulheres presidido por Michelle Bolsonaro, em Florianópolis. Entre risos, saboreou o resultado da coleta: “Dá para pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro para tomar um caldo de cana e comer um pastel com dona Michelle”.
Ficou entendido que aquela conversa toda, o patriotismo transbordante, a defesa incondicional da família, a ânsia por liberdade, a entrega altruísta ao bem público, tudo isso é impulsionado pela mesma invariável mola sedutora: o dinheiro.
Os críticos ficam aí falando mal de Bolsonaro. Mas, na verdade, o personagem só merece pena. Sofre uma perseguição judiciária implacável. Está certo, dá dinheiro. Dá muito dinheiro. Dá dinheiro demais. E essa é uma de suas misérias, porque se o mito não mantiver a engrenagem política que lhe rende lucros exorbitantes será um fracasso.
Muitos políticos vivem com lucros exagerados. Mas Bolsonaro é prisioneiro do exorbitante. Defensor ardoroso do patriotismo e da instituição familiar, o capitão uniu o inútil ao agradável. Ensinou aos seus garotos, desde o berço, o valor do amor à pátria. Assim que cresceram, os rapazes seguiram o exemplo do pai.
Casaram-se com a pátria e foram morar no déficit público. De rachadinha em rachadinha, os Bolsonaro enriqueceram convertendo o erário numa prótese de suas residências. A inelegibilidade criou uma oportunidade para que o patriarca exercitasse sua criatividade empreendedora.
O histórico de Bolsonaro não combina com o normal. Ele não pode se dar ao luxo da normalidade. É como os portadores de doenças raras, que não podem respirar oxigênio. O mito pertence à categoria dos políticos obrigados a viver dentro de bolhas que os preservem da atmosfera convencional. Ele precisa de um suprimento regular da sua substância vital: a exorbitância.
Todas as multas impostas pelo Judiciário a Bolsonaro por não usar máscara em suas aparições públicas em São Paulo durante a pandemia somam R$ 936.839,70. Por enquanto, o infrator não pagou um mísero tostão. Com a conta bancária tisnada pela exorbitância, o beneficiário das doações viu-se submetido ao inconveniente de aplicar o excedente.
Relatório do Coaf informa que os recursos foram abrigados em títulos de Certificado de Depósito Bancário (CDB) e Recibo de Depósito Bancário (RDB), modalidades de investimentos de renda fixa. Submetida à rentabilidade proporcionada pela taxa de juros anual de 13,75% a exorbitância torna-se um pouco mais exorbitante.